Por André Beltrão – O delegado da polícia civil Victor Hugo Jardim Rondon, de 42 anos, que recebeu o título de cidadão honorário de Pernambuco concedido pela Alepe (Assembleia Legislativa de Pernambuco) no ano passado, é acusado de operar celulares sem mandado judicial. A denúncia é do ex-diretor do presídio de Igarassu Charles Belarmino de Queiroz Silva, preso pela Polícia Federal por acusação de corrupção. A suspeita é que o ex-diretor tenha sido usado como “bucha de canhão”.
Belarmino dirigiu o Presídio de Igarassu por oito anos, foi afastado do cargo em dezembro e detido em 25 de fevereiro junto com outros policiais penais. Em depoimento ao delegado da PF Otávio Bueno da Fonseca, no dia 6 de março último, relata que Victor Hugo lhe solicitava para entregar celulares aos detentos com o aplicativo “bruno espião”. O objetivo era o de capturar conversas dos detentos com comparsas que auxiliassem operações policiais lá fora. Como não havia mandado judicial para tais operações, a prática é considerada ilegal.
Formado em Direito pela USP, paulista da capital, Victor Hugo ingressou por concurso na Polícia Civil de Pernambuco aos 25 anos. Antes da ocupação atual na Ficco (Força Integrada de Combate ao Crime Organizado), passou dez anos na área de homicídios, lotado em várias delegacias, como a 5ª e a 11ª e em Jaboatão dos Guararapes. O título de cidadão honorário lhe foi concedido por iniciativa da deputada Delegada Gleide Ângelo (PSB).
No depoimento à PF, Belarmino conta que pelo menos em uma oportunidade o delegado fez chegar os celulares com o aplicativo aos detentos sem sequer comunicá-lo, passando por cima de sua autoridade de diretor do presídio. Afirma que as mensagens que trocava por WhatsApp com o presidiário Lyferson Barbosa da Silva, recolhidas como prova da acusação de corrupção contra ele, “se limitavam ao bom andamento do presídio e não a atividades ilícitas”.
Diz que sempre colaborou com a polícia, citando a operação Manguezais, deflagrada em fevereiro de 2024 em conjunto pela PF e Polícia Civil contra o tráfico de drogas no litoral sul de Pernambuco, originada justamente pela aplicação do aplicativo “bruno espião”.
O ex-diretor do Presídio de Igarassu informou ter sido dono de uma empresa de segurança privada não legalizada que atendia a Caixa Econômica Federal e que chegou a possuir uma centena de vigilantes. Citou receber um salário líquido entre R$ 12 mil e R$ 14 mil mensais.
A uma indagação do delegado federal Otávio Bueno da Fonseca sobre grande quantia de dinheiro vivo encontrado em sua casa, incluindo dólares e euros, na operação da Polícia Federal que resultou na sua prisão, alegou ser sócio do policial penal Newson Motta numa empresa de camarão de cativeiro em Pilar e Salgado de São Félix, na Paraíba.