A prevenção ao glaucoma, doença que é a principal causa de cegueira evitável no mundo, mobilizou o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) e a Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG) que, em maio, promovem uma campanha nacional sobre o tema com foco na população. Em Pernambuco, o oftalmologista Roberto Galvão Filho, vice-presidente da SBG e chefe do departamento de Glaucoma do Instituto de Olhos do Recife (IOR) promove a iniciativa educativa. Com apoio de nomes de peso – como o ator Tony Ramos, o apresentador Danilo Gentili e o cantor Renato Teixeira, entre outros -, a campanha lança conteúdo, em formato de cards, vídeos, textos informativos e orientações de especialistas, para sensibilizar e conscientizar os cidadãos sobre os riscos e os cuidados com esse transtorno.
O ponto alto da ação será a realização de uma maratona nas redes sociais, no dia 22 de maio (sábado). O projeto 24 horas pelo glaucoma será uma plataforma digital, que concentrará ao longo de um dia, uma série de produtos e serviços que trarão conteúdos relevantes para pacientes e familiares, profissionais da saúde, médicos e gestores públicos e privados. O evento, que já conta com o apoio de várias entidades médicas e da sociedade civil, bem como de personalidades (atores, cantores, atletas, comunicadores), acontecerá quatro dias antes da celebração do Dia Nacional de Combate ao Glaucoma (26 de maio).
O 24 horas pelo Glaucoma será ancorado no canal do CBO no Youtube. Entrevistas, reportagens, debates, depoimentos e dicas para o cidadão sustentarão a programação que, após, ficará disponível na mesma plataforma. Além disso, o projeto prevê a oferta de salas de teleorientação para pacientes e interessados no tema, que poderão se inscrever e ter uma sessão de aconselhamento online com especialistas, onde poderão ser esclarecidas dúvidas sobre sintomas, formas de prevenção e tratamentos.
Para saber mais sobre a iniciativa do CBO e da SBG, os interessados podem acessar o site do projeto (https://www.24hpeloglaucoma.
Além desse empenho individual, grandes instituições nacionais, como o Senado, a Câmara dos Deputados, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Conselho Federal de Medicina (CFM), o Conselho Nacional dos Secretários Estaduais da Saúde e o Conselho Nacional dos Secretários Municipais da Saúde e o Ministério da Saúde empenharam apoio e estarão participando das atividades. Vários deles decidiram iluminar suas sedes na cor verde, durante o mês de maio, para chamar a atenção para o problema.
O que é glaucoma? – O presidente do CBO, José Beniz Neto, explica que o glaucoma é uma doença que provoca a atrofia do nervo óptico –responsável por conectar o olho ao cérebro –, interrompendo, assim, a transmissão dos sinais entre esses dois órgãos e levando à cegueira. No geral, a doença ocorre devido ao aumento da pressão intraocular, um processo lento, que pode progredir durante anos, até o aparecimento dos primeiros sintomas.
“O tipo mais comum é o glaucoma primário, que tende a surgir durante o processo de envelhecimento do corpo humano, especialmente a partir dos 40 anos de idade. Há estudos que apontam uma prevalência de 10% na população com mais de 80 anos. Outro tipo também verificado com frequência é o glaucoma secundário, que está relacionado a doenças preexistentes, como o diabetes, e ao uso prolongado de certos medicamentos, como corticosteroides”, explica.
De acordo com a publicação “Condições de Saúde Ocular 2019”, elaborada pelo CBO, de 2% a 3% da população brasileira acima de 40 anos possui a doença. O número representa aproximadamente 1,5 milhão de pessoas. Projeções da Associação Internacional de Prevenção Cegueira (The International Agency for the Prevention of Blindness – IAPB) indicam que o total de pacientes com glaucoma em todo o mundo chegará a 111,8 milhões, em 2.040.
Grupo de risco – Pessoas com parentes de 1º grau (pais e irmãos) com histórico de glaucoma têm até dez vezes mais chances de desenvolver a doença. Também se somam ao grupo de suscetíveis pessoas com alto grau de miopia, diabetes e usuários de antidepressivos e corticosteroides, além de idosos e afrodescendentes.
Segundo alerta Wilma Lelis Barbosa, membro da Comissão de Diretrizes e Gestão do CBO e do Comitê de Saúde Suplementar da SBG, é fundamental estar atento ao diagnóstico precoce, uma vez que o glaucoma atua de modo lento e progressivo antes de culminar no quadro de cegueira. Nesse sentido, quanto mais cedo a doença for descoberta, mais efetivo será o tratamento.
“De modo geral, a recomendação é para que todos os pacientes acima dos 40 anos de idade ou do grupo de risco realizem consulta com o oftalmologista ao menos uma vez por ano. Durante o atendimento, um dos pontos centrais é a avaliação do fundo dos olhos e a aferição da pressão intraocular, que deve ser realizada por um médico oftalmologista”, afirma.
Tratamento – O vice-presidente do CBO, Cristiano Caixeta, ressalta que, em geral, o prognóstico dos milhares de brasileiros diagnosticados com glaucoma tende a ser favorável, uma vez que o tratamento é efetivo na maioria das vezes. A terapêutica tem como objetivo controlar a pressão intraocular e interromper o processo de perda de fibras nervosas dos olhos.
“Apesar de não existir uma cura, são raros os casos de difícil controle. Geralmente, a doença responde bem às opções de tratamento, que pode acontecer por meio de medicações tópicas (colírios), lasers ou cirurgia. Há glaucomas com indicação iminentemente cirúrgica, mas a estratégia é sempre definida caso a caso, ponderando a razão entre risco e benefício”, pondera.
Na avaliação do especialista, o ponto crucial é justamente o acompanhamento precoce. “Se você diagnosticar na fase inicial, não há impacto na qualidade de vida do paciente, porque a gente consegue estacionar a doença num ponto em que ainda não há sintomas. Se o paciente descobre em fase avançada, também é possível impedir o agravamento, mas a perda que já aconteceu é irreversível”, alerta.
Auxílio – Por isso, o CBO e a SBG recomendam expressamente que os brasileiros agendem anualmente uma consulta oftalmológica. Atualmente, a Atenção Primária do Sistema Único de Saúde (SUS) dispõe de oftalmologistas distribuídos por todo o País. Além disso, o Brasil conta com uma política pública nacional que garante o fornecimento gratuito de medicamento aos pacientes com glaucoma.
“Procure a unidade de saúde mais próxima e verifique a disponibilidade de atendimento no seu município. O SUS tem um programa específico para tratamento desses pacientes. Todos recebem a medicação adequada e acompanhamento regular, com consultas a cada três meses. O enfrentamento dessa doença é uma prioridade em termos de saúde pública e precisa ser abraçado por todos como um desafio a ser superado, a fim de evitar a cegueira de milhares de brasileiros”, reitera Cristiano Caixeta.
Contudo, ainda há pessoas que subestimam a gravidade do glaucoma, mesmo após o diagnóstico. Nesse sentido, alerta o presidente do CBO, é fundamental insistirmos na educação. “O paciente precisa compreender que, apesar dessa doença ser assintomática nas fases iniciais, ela vai ocasionar cegueira se não for tratada. Por isso, o acompanhamento com o médico oftalmologista não pode ser deixado de lado de maneira alguma, pois representa rastreamento e início de tratamento precoces e sistemáticos”, finaliza José Beniz Neto.